A Realidade Através do Espelho.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

"Coisas que ficaram muito tempo por dizer."

A voz do tempo disse-me coisas: Numa manhã de quinta-feira o trabalhador saiu às ruas, a dona de casa foi à padaria, os meninos, pelas calçadas enxarcadas de suor, empinavam pipas que desenhavam o céu. Em cada dolorido e belo alvorecer, em cada recomeçar diário os meus olhos sobrevoam o centro místico destas pequeninas infinitudes. O poeta não é mais que alguém capaz de olhar. Quero dizer, através destas palavras esfarrapadas e inquietas (assim como eu mesma) que este fio concretamente intangível que nos une, este vínculo invisivelmente colorido que nos conduz, que faz de você a minha melhor parte, a completude do que sou, faz redesbobrir o olhar que eu lanço sobre o estranho ritmo do mundo. Você é a palavra que eu escrevo em mim todos os dias; é a melodia solta que eu ouço ao dobrar de cada esquina; no orvalho das manhãs, é o filme que vejo; é o que a vida esculpiu e me presenteou. Sei que talvez tudo o que eu digo, ou melhor, escrevo aqui, talvez não seja compreendido, contudo, não importa: Moramos no sentimento. E para que você sinta-se em paz, fiz questão de construir o seu abrigo: Na sua casa, pus um jardim de nostalgia; na varanda, coloquei a sutileza do entardecer; nos quartos, pintei as paredes com as cores que pedi emprestadas a Dionísio; na cozinha, temperei os risos com cravo e canela; nos armários, depositei as suas melhores lembranças; na sala, em cada tijolo, joguei um punhadinho do conforto de estar com quem se ama; no banheiro, fiz questão de por as caretas mais engraçadas em frente ao espelho; Esta é a sua casa. A casa que carrego dentro do meu peito para guardar você. Enfim, amo-te.

Sua pequenina gigante.


Por: Marília Meireles

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