A Realidade Através do Espelho.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Continuando o sei-que-lá dos causos d'outro dia...

A vida é de lugares, pensei. E essa coisa inquietante de caber no vazio certo do ponto exato para aonde se lança o ponteiro do mundo. É, quis guardar o tempo no pote dos pensamentos, já não podia. É que do meu lado, uma quarentona murmurava as entrelinhas de seu passado. Nós, num lado-a-lado espremido. E num golpe de gentileza um rapaz muito que moço, pediu para reservar da mulher os pertences, coisa de pesos, no seu colo esparramado. Tcheck-Tcheck... num ranger de sapatos que já viram um muito, um outro homem rumava para cabine traseira. Pisoteava seu destino. Sim, sim, voltemos... o homem e a quarentona e sobretudo os camelos e sofás e quimeras que ela parecia carregar naqueles volumes, evidentemente. Uma parada, e outra. O homem se ergue num subitar-se, aí foi, chegou o lugar de se descer. E os guardados da mulher se pousaram na cadeira vazia. (Re)pousava seu corpo denso no vazio, aquele vazio do tempo do lugar certo. Odeio estas quarentonas, espreitou-me um farfalhar de idéia. Mais um parada, Lá vem aquele senhor com seu "Eu podia estar matando, roubando, mas..." Outra parada e me veio um tal de "Mentos é a 10!", esbafurindo as necessidades de um comer que se aproximava, um jajá absoluto. Qual seria o próximo? É o senhor do coiso coisento, o saco cheiroso de enganar traças de guarda-roupa. Então subiu o outro, aquele todo minguado, de carecas expostas, muito prestimoso, o do bloquinho que papel. Na minha cabeça piscava um pois que se quer escrever, se tem de aprender a olhar pelos vidros do ônibus. Voltei para casa e dei de cochilar as idéias.